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Cláudia Sousa Pereira - Quem sai aos seus não degenera
Terça, 15 Novembro 2011 09:44

Quem tem tido a paciência de me ir ouvindo ou lendo nestas crónicas, já terá reparado que a questão das gerações mais jovens é uma preocupação minha. Não só por razões pessoais, porque tenho filhos, mas porque lido no dia-a-dia com situações sociais várias em que vários ciclos, sobretudo de más práticas, tantas vezes não se conseguem quebrar. Por outro lado, e vivendo numa cidade de média dimensão, vou-me dando conta de fenómenos que têm maior visibilidade quando as relações entre as pessoas se tornam estreitas por força da proximidade, uma tão proclamada vantagem dos meios mais pequenos.
Tem esta minha crónica a ver com as relações familiares que assumem, na continuidade, relações de hereditariedade fora do círculo familiar, em que alguns nomes de família são quase bilhete de identidade para certas competências e passaporte para determinadas funções. E, não raras vezes, esses nomes são até mais pomposos, pouco usuais ou mesmo estrangeirados, remetendo para o anonimato os numerosos Silvas, Santos ou outros, com aparente prejuízo destes.
Eu até acho interessante e engraçado o folclore de cada família, muitas vezes expresso em costumes idênticos, datas sempre festejadas, assobios comuns a gerações e gerações, que dão precisamente, e no seu sentido por isso folclórico, identidade própria àquela ou a esta família. Também é natural que o convívio e a genética propiciem aptidões comuns e, por isso, vocações semelhantes.
Confesso, no entanto, que acho este fenómeno assustador. Para mim é assustador. Não só me imagino a carregar uma espécie de fatal destino das gerações anteriores, como me parece que o lugar da autodeterminação de cada indivíduo de tais tipos de famílias se torna estreito e apertado. Alguns considerá-lo-ão aconchegante e confortável. Nada contra. Desde que não obriguem a que outros, fora deste esquema, tomem essa regra interna e sua, e usem o nome como palavra-passe para entrar em lugar onde o direito de admissão não é reservado a privilégios desse tipo. Também é certo que, mesmo querendo permanecer no anonimato e não desejar usar de forma alguma este tipo de prorrogativa, a própria sociedade, ou comunidade, por vezes se encarrega, sem que ninguém lho encomende, de fazer este tipo de segregação. Suponho que será difícil qualquer Champalimaud, Kennedy ou Grimaldi, em determinados meios, passar incógnito, mesmo não tendo interesse nenhum em ser reconhecido por esse facto. Até porque estes “clãs”, chamemos-lhe assim sem nenhum menosprezo, muitas vezes se cruzam com outros, mais ou menos coesos, que acabam por se tornar “chegadiços” quando são menos sonantes, ou engrossar com mais “seiva boa” uma árvore genealógica de grande porte, e aqui estou a ser um bocadinho irónica.
E o que é para mim mais impressionante, é que este sistema também se dá em meios normalmente mais avessos a estas práticas de espírito monárquico, como o é, por exemplo, o meio artístico. Veja-se por exemplo o caso dos portugueses circos Chen e Cardinali. E haverá seguramente outros exemplos, quer a nível internacional, quer a nível local.
Mas, enfim, o que me leva a falar deste assunto é o ditado que diz «Quem sai aos seus não degenera», o que me parece uma terrível condenação profética que sugere, nalguns casos, mais valer até não saber, nem dizer, de que terra se é! O risco que, nas terras mais pequenas, se corre por se ser avaliado à nascença só pelo nome é uma herança que acaba por se tornar injusta para todos. Se joga a favor, exclui os que não o têm, se joga contra condena quem o carrega. Preocupante…
Até para a semana.

 
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